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10/12/2015ㅤ Publicado às 18:33

 Jorge Romano

 Por Jorge Romano Netto*

Fazer arquitetura é ir além do projeto. Esse é o grande desafio do arquiteto. A arquitetura entendida como a arte de abrigar as atividades humanas, deve levar em consideração aspectos e elementos subjetivos que norteiam o movimento da sociedade, tanto no nível coletivo como no pessoal.

Para iniciar o projeto, o arquiteto se depara com desafios semelhantes ao do escritor diante da folha (ou tela) em branco. Todas as letras, formas, cores e texturas estão ali adormecidas. A pena é quem vai de forma sutil, despertar o volume e as formas. Mas para orientar essas escolhas, o arquiteto tem como premissa, o terreno e a topografia, o briefing (programa de necessidades), as leis municipais e federais (Plano Diretor, Código de Obras, Normas, etc.) e a disponibilidade financeira de quem encomenda o projeto. Estes são apenas parâmetros para nortear o processo e indicar que o uso e a ocupação adequados para a área, na qual será implantada a obra. Até aqui o desafio pode ser resolvido por meio de técnicas e metodologias específicas.

Porém, para ir além do projeto, o arquiteto tem que levar em consideração a necessidade e o sonho. A proposta escolhida deve equilibrar esses dois polos e aproximar a obra do sonho, contemplando todas as necessidades.

Pensemos: o que é uma casa? Se acharmos que ela é apenas o edifício destinado a moradia, qualquer pessoa que domine a técnica, pode “desenhá-la”. Mas se aprofundarmos o conceito e entendermos que a casa é algo além de moradia, vamos descobrir que ela tem características subjetivas e específicas para cada pessoa ou família. Ela é o lugar para onde se vai depois de um dia de trabalho, quando o cansaço vem. Por isso tem que promover a alegria de voltar para o lar. É o espaço de repouso e descaso. Nos horários de ócio, a casa deve ser o ambiente de refrigério, encontro de amigos, familiar e lazer, enfim, ambiente propício para recarregar as baterias e encarar nova batalha no dia seguinte.

Ir além do desenho (do projeto), além de ser desafio é de grande responsabilidade. Pois a maneira de viver de cada família com as manias, hábitos, costumes, sonhos e, também, as economias estão postas diante do projetista de maneira invisível. Esses elementos são abstratos. O arquiteto se torna sonhador que sonha junto com o cliente e cria a ferramenta com a qual ele vai transformar o projeto em realidade. Deve existir relação de confiança e intimidade entre o arquiteto e o cliente para que tudo seja bem interpretado e, ao final, a casa seja a “cara” do dono.

Na prática não é bem assim. A arquitetura ainda é vista com desconfiança por grande parte da sociedade. Existem pessoas que acham que o projeto é artigo de luxo. Não sabem que projetar é pensar antes. É colocar na linha do tempo cada etapa e o quanto custará ao final. Isso possibilita ao cliente a programação físico financeira.

Além da falta de conhecimento por parte da sociedade, os profissionais sérios, sofrem concorrências desleais de sites e revistas que oferecem projetos prontos aos desavisados que os adquirem por preços aparentemente módicos e criam com isso a banalização do exercício profissional, o que contraria os princípios éticos e legais. Existem também os que procuram desenhistas, técnicos de nível médio ou estudantes que não tem consciência do papel técnico e praticam o exercício ilegal da profissão. A grande maioria não é penalizada pelos conselhos, pois escondem-se abaixo da caneta dos “caneteiros”, que são profissionais que assinam os projetos, respaldando legalmente os infratores. É como se o cirurgião se responsabilizasse por cirurgias realizada pelo técnico de enfermagem.

Ao “comprar” o projeto pronto o cliente está desperdiçando a oportunidade de personalizar o futuro lar. De fazer algo dentro da realidade sócio financeira, compatível com o terreno, integração ao entorno, dentro da legislação municipal e com ambientes bem iluminados e ventilados naturalmente, situação que contribui para a economia de energia, proporciona satisfação, prazer, sociabilidade e saúde.

Por isso a arquitetura deve ir além do projeto. Ela não é só escolha de formas bonitas, cores da moda, texturas interessantes. Ela é a materialização do sonho que revela o tempo e o espaço dos que as produzem. Ela também tem a obrigação de ser confortável, agradável e BELA.

O arquiteto é o profissional que teve no mínimo cinco anos de estudo, aprendendo a projetar. Com estudos multidisciplinares que vão de matemática; cálculo; sociologia; economia; direito urbano; planejamento urbano e conforto ambiental; estudos que passeiam por vários temas que vão da residência, passam pelo edifício comercial, industrial, hoteleiro, hospitalares, etc. Na escala urbana se estuda a residência, a quadra, o bairro e a cidade.

A escola procura desenvolver a consciência crítica e criativa no futuro profissional. Àqueles que praticam indevidamente o ofício de projetar, não passou por tudo o que foi dito até aqui. É inconfundível e incomparável o projeto do legítimo arquiteto. Até os leigos sabem diferenciar o projeto feito por arquiteto dos feitos por outro “profissional”.

Os que procuram outros profissionais, o fazem equivocadamente. Economizam no valor do projeto, porém, gastam mais na construção. E na hora de vender o imóvel, aquela “economia”, não agrega valor. Por isso e muito mais que o trabalho do arquiteto deve e tem que ser valorizado. Foram muitas noites sem dormir, fazendo os trabalhos da faculdade, os livros comprados para adquirir mais conhecimento, as viagens e toda a dedicação à profissão devem ser postos na balança.

A formação do arquiteto e urbanista legítimo é complexa. Não é à toa que se trabalha com arquitetura. Se a casa é bonita, o bairro é bonito, a cidade é bonita, é porque existe o trabalho do arquiteto e urbanista. Por isso a sociedade deve ser informada da relevância do trabalho desse profissional para também valorizá-lo. Porque somente o arquiteto de verdade vai além do projeto.

*Profissional arquiteto e urbanista, conselheiro suplente do Conselho e Arquitetura e Urbanismo de Roraima e cidadão.

 

 

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2 respostas para “Os desafios do arquiteto”

  1. Kayo Soares disse:

    Parabéns pelas palavras meu amigo Jorge Romano, reflexo do grande profissional que é.

  2. José Augusto disse:

    Muito bom esse artigo! Arquitetura é incrível!

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