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15/12/2015ㅤ Publicado às 09:34

Conselheiro Nikson Oliveira

Por Nikson Dias de Oliveira*

Pode até parecer acaso, mas não é. Tudo se encaminha a um propósito, isso para quem acredita no futuro moldado ao pré-determinado. Eu acredito no realizável, desde que se deseje, lute e busque o alcance da meta sonhada.

Repentinamente nos deparamos com o universo de atividades que necessitam de ideias, decisões, análises, ponderações e, pelo incrível que pareça, dos sentidos mais primitivos, mesmo que possa contrariar o mundo.

Ser arquiteto é pensar nos espaços habitáveis e não habitáveis, nos fluxos de energia e de pessoas. Ser arquiteto é ser sonhador, o mago que transforma esses sonhos em realidade. Igualmente, ser arquiteto é saber do ideal e conviver com as mazelas impostas pela vida moderna, conhecer a teoria do bem-viver e tentar expressar tudo em forma de projeto e, num futuro próximo, ver a ideia distorcida, anarquizada e desordenada – cruel destino de cidades planejadas como Brasília e outras que foram propostas para demandas e propósitos e depois deturpadas no uso e aplicação pelos usuários.

O arquiteto é o malabarista de ideias, o mentor de sonhos alheios, o detentor das ferramentas capazes de administrar as economias da vida desconhecida e, ainda, converter em moradia o lar ou em qualquer materialidade desejada nos planos de trabalho onde se possa viver, trabalhar, descansar e se divertir.

Provavelmente estereótipos podem ser formados, com fragmentos de verdade ou ilusão, mas o que seria da humanidade sem as possíveis soluções ou as prováveis ideias se não fossem as perguntas? Que sentido fariam as respostas se a necessidade do bem viver não existisse? Que sentido faria o arquiteto sem as ideias protótipos?

Para os criacionista Deus é o arquiteto do universo, criou o mundo e tudo que nele há. Para os evolucionistas tudo é mutável e evolui conforme a arquitetura das partículas, se adaptam conforme os espaços que vivem. Pois bem, não quero dizer que somos deuses e detemos o conhecimento que altera ou rege as evoluções. Quero afirmar categoricamente que se o indivíduo é criativo, questiona a forma de viver ou tem sentimentos pela forma do homem usar os espaços. Esta afirmação é forte candidata a imprimir o “ser arquiteto”.

Lembro bem da vez me questionaram em sala de aula: – Professor, em que área de conhecimento se enquadrava o Curso de Arquitetura e Urbanismo? Certamente é difícil a pergunta, mas ao ponderar o que realmente o arquiteto promove, cheguei à conclusão exata e explicarei como exemplo certo casal com dois filhos que solicita o planejamento da residência. Casa esta que servirá de abrigo, lar de paz e concórdia. Assim, começa a entrevista a fim de conhecer os moradores: o que gostam? Como se comportam? Hobbys? Como se vestem? Costumes diurnos e noturnos? Hábitos culturais e religiosos? Tudo para entender como o cliente deseja se sentir na própria casa – neste momento o casal despeja todos os sonhos, dos mais audaciosos aos mais básicos. Sugerem cor e dimensões de arquitetura. Neste momento, o profissional põe o lado da psicologia para funcionar, além de ser mediador para que não haja conflito entre o tamanho da cozinha e a quantidade de vagas na garagem; entre o depósito para guardar as “tralhas bagunçadas” do marido e o lugar onde serão guardadas as quantidades de sapatos da esposa. Onde organizar tudo isso? Bom, até aqui, tratamos das ciências humanas.

Passemos para outro momento. Ao iniciar os esboços, croquis, volumes e formas, o arquiteto precisa dimensionar os espaços, analisar a ergonomia, testar a acessibilidade, os raios de aberturas das portas, a altura do pé-direito, tamanho de escada e altura dos degraus, larguras dos patamares, inclinações de rampas e telhados, acesso de serviços, acesso social, fluxograma, funciono-grama, organograma, layout, circulações, instalações hidro-sanitárias, instalações elétricas, sistema estrutural a ser aplicado. Ufa! É muita coisa. Daí, concluiu-se que estamos tratando de ciências exatas, não resta incertezas.

Noutro passo, como ainda não foi dado início ao projeto, precisamos caminhar mais adiante, desta vez, na análise morfológica e lógica da residência. E aí que entra o estudo do terreno – topografia, vegetação existente, posição em relação aos ventos predominantes e como utilizá-los e captá-los. Outra análise é sobre carta solar a fim de setorizar os ambientes e as respectivas posições, os locais onde se deseja a incidência solar, bem como onde não se deseja. Ainda, verificamos as intervenções de proteções vegetais ou artificiais para melhor aproveitamento térmico e acústico. Outro estudo é a inserção do paisagismo na concepção residencial, uma vez que para a produção da fotossíntese a planta necessita do sol ou mesmo a análise das árvores com grandes raízes, pois elas podem danificar as instalações hidro sanitárias. Em contraponto, em nossa cidade a sombra da árvore é vital para lazer e o bem-estar térmico, daí surge o valor da cobertura vegetal para promoção de sensação natural e conforto ambiental. Bom, estamos tratando da aplicação das ciências biológicas.

O conceito de arquitetura e o ser arquiteto advém do turbilhão de ideias e análises. A conclusão que chego para responder à pergunta feita em sala de aula pelo aluno, é que a arquitetura perpassa pelos conceitos das ciências humanas, exatas, biológicas ou misto de tudo isso atrelado à arte. Sem dúvidas, a arquitetura se faz, refaz e transpassa os estudos multidisciplinares, por isso jamais chegaremos ao conceito finalizado. Então se eu pudesse classificar em que ciência se aplica a arquitetura diria: Ciência Universal.

Tudo parte do princípio idealizador. Cada ideia é fagulha e centelha que por probabilidade remota pode tornar traço em realidade. O turbilhão de ideias precisa ser organizado, ordenado e questionado, tudo de forma disciplinada para se chegar ao projeto – a prova de fogo do arquiteto!

Em resumo, ser arquiteto é ser ordenador de ideias, transformador de sentimentos, materializador de possibilidades. É ser o construtor da cidade. Ser arquiteto é dar uso aos espaços públicos e privados. Quando você olha crianças brincando na praça ou pessoas indo e vindo nas vias da cidade, ali está o trabalho do realizador de sonhos – o arquiteto e urbanista.

* Arquiteto e urbanista, engenheiro de segurança do trabalho, professor da Universidade Federal de Roraima (UFRR) e Conselheiro do Conselho de Arquitetos e Urbanistas de Roraima (CAU/RR).

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2 respostas para “O que é ser Arquiteto?”

  1. Kayo Soares disse:

    Parabéns pelo artigo professor, belas palavras !!!

  2. José Augusto disse:

    Muito bom, professor! Ser arquiteto é isso mesmo! Adoro essa diversidade da arquitetura.

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